Em 1848, é publicada em Paris uma obra que se consagraria no cânone ocidental, prosseguindo a emocionar diversos leitores ao longo do tempo: A Dama das Camélias. Tal um legítimo exemplar do romantismo, a narrativa teatral, repleta de boas e más venturas, expõe o outrora velado amor entre Armand Duval e Marguerite Gautier. Para além do marco lírico, a trama é um verdadeiro documento social, que contrapõe o deslumbre da era dourada à decadência mundana, em todos os seus estigmas e dissimulações; o jovem burguês e a famosa cortesã logo manifestam um caráter essencialmente realista ao enredo, que aborda, de forma pungente, “a moralidade, a soberania do perdão, a humildade emocional e a resignação”.                                            Já no século XXI, Caroline Lucena estreia no mundo literário através dos chamados “Dramas de Época”, textos com ambientação histórica diferenciada, em cada página revelando o caráter atemporal de emoções. A autora deseja assim criar personagens legítimas, com elementos pautados na verossimilhança e, principalmente, nos reais sentimentos compartilhados, ainda que distintos sejam os períodos e locais de destaque. Lançado em dois volumes – Sob o olhar de Camille e A Última Pétala de Bougival -, A saga de Camille seria, pois, a releitura psicológica da obra-prima de Alexandre Dumas Filho, evidenciando o olhar sincero de Marguerite Gautier, já aclamada em óperas e diversas adaptações, porém, nunca da mesma forma que a inédita prosa de Caroline ousa traduzir.