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Nas vinte histórias narradas, atentamo-nos aos cochichos vindos dos quartos e das cozinhas de matriarcas, encaramos a dor de casamentos infelizes, conhecemos a maternidade sem a “aura sagrada” que, por tantas vezes, deixa a mulher ainda mais solitária. Assim, somos levados a caminhos sem rotas de fuga, onde bradam os alaridos de corpos negligenciados pela sociedade, onde emana o fedor ocre que vem do abismo social. Miramos, entontecidos, o despenhadeiro em que as personagens se encontram. Condoemo-nos pelos preconceitos e dores que cada uma delas enfrenta. E encontramos, descortinados o sangue, o pus e a placenta do mundo.

 

 

Sabrina escreve sobre a morte – literal e metafórica. Do luto e da luta de quem, diariamente, precisa provar a bravura que existe em se tornar (e ser) mulher em uma sociedade patriarcal e assassina. Em especial, essas histórias esmiuçam vulnerabilidades, discrepâncias, injustiças – evidenciando, dessa forma, as aflições de personagens bastante comuns a todos nós. Com esse trabalho, portanto, Sabrina se apropria do direito imprescindível, ao qual a escritora francesa Annie Ernaux se refere na autobiografia “O acontecimento”, que é o de escrever sobre aquilo que se vive, relatando essa experiência até o fim, para que, assim, não contribua com o obscurecimento da realidade das mulheres, nem se acomode “do lado da dominação masculina do mundo.”

 

Pelas histórias de Amanda, Lúcia, Aurora, Diana, Carolina, Alda e tantas outras, a autora se lança ao desafio do ofício literário, que é o de fazer com que o leitor suspeite “do horror de uma realidade que nunca antes havia levado a sério”, conforme descreve, precisamente, Samanta Schweblin, escritora argentina de palavras cortantes. Então, prepare-se para enfrentar o horror que há nas invisibilidades de nossos tempos – e, depois disso, quem sabe, sentir-se um pouco mais responsável. E um tanto mais livre.

 

Livre ao lado de Sabrina que, sem dúvidas, o é com esta publicação. Afinal, nesses contos, vislumbramos uma mulher escrevendo, colocando-se diante da engrenagem histórica que inferioriza o “segundo sexo”, unindo-se ao grito uníssono de liberdade feminina nesse mundo – que, não tenho dúvidas, é nosso.

 

“Tranque as bibliotecas, se quiser; mas não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com os quais você conseguirá trancar a liberdade do meu pensamento.”  (Virginia Woolf, em Um teto todo seu).

 

Uma travessia potente a você.

Eu gostaria de saber qual é a sensação de ser livre

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